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Caindo pelas tabelas
O Brasil também não tem tido boas notícias com relação às suas universidades. Recentemente, deixou de ter representante entre as 200 melhores no Ranking Mundial de Universidades 2013-2014, divulgado pela consultoria britânica Times Higher Education (THE). Em 2012, a USP figurava como a única brasileira, na 158ª posição, mas este ano caiu para a 226ª colocação.
Além disso, há apenas quatro universidades brasileiras entre as cem melhores dos principais países emergentes, classificação feita pela primeira vez pela mesma THE.
As quatro brasileiras citadas são a USP, que ficou em 11º lugar; Unicamp, em 24º lugar; UFRJ, em 60º; e Unesp, em 87º. A China lidera a classificação com 23 universidades na lista — quatro delas entre as dez melhores.
Para o sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), a política de ensino superior do governo federal tem se concentrado no acesso, sem se preocupar com a qualidade e sem admitir que diferentes instituições podem ter papéis distintos — umas dando cursos de qualidade adequada para grandes números, outras trabalhando na ponta da excelência.
Segundo ele, a China, como também a Índia e a Coreia, da mesma maneira que a Alemanha e outros países europeus, decidiu identificar suas melhores instituições e investir nelas para as transformar em instituições de padrão internacional. “Isso é feito não somente colocando mais recursos, mas exigindo que elas mostrem padrões elevados de desempenho em ensino e pesquisa”.
Para tal, precisam ter autonomia e flexibilidade para administrar recursos e, sobretudo, para ter políticas de gestão de talento, o que significa buscar ativamente, em todo o mundo, pessoas de alta competência e pagar o que se paga a essas pessoas no mercado internacional, ou pelo menos acima do que pagaria o mercado privado em seu país.
Schwartzman lembra que, no Brasil, essa flexibilidade tem sido impossível, “porque nossas universidades são repartições públicas geridas burocraticamente e submetidas a políticas de salários isonômicos”. Além disso, as universidades “estão submetidas a pressões populistas como as de eleições diretas etc., que são incompatíveis como uma gestão mais forte e voltada para o desempenho e a excelência”, ressalva.
Como o setor público não conseguiu crescer nesse modelo, o privado ocupou o espaço e hoje atende a mais de 70% das matrículas, “dando uma educação de qualidade precária”, lamenta Schwartzman.
Para Arnaldo Niskier, ex-secretário de Educação no Rio, não há muito o que comemorar no ensino superior: “Já deveríamos estar com dez milhões de alunos, mas não chegamos ainda a sete, mesmo contando com um milhão de inscritos na promissora educação à distância”.
Para ele, “é mais que evidente o envelhecimento do nosso modelo educacional. Currículos ultrapassados, professores despreparados, recursos insuficientes, falta de vontade política nesse setor estrategicamente fundamental para o crescimento do país”.
Mozart de Araújo, do Instituto Ayrton Senna, acha que uma das razões da queda de nossas universidades é “o baixo nível de internacionalização”, que teria de ser ampliada aumentando a dupla titulação no seu cotidiano e a mobilidade acadêmica de professores e alunos.
“Nossos currículos são muito verticalizados e burocratizados, o que impede muitas vezes a dupla titulação e o reconhecimento de estudos fora do país. Nossos alunos e professores têm baixa capacidade para se comunicarem em inglês, seria necessário oferecer disciplinas bilíngues”.
Ele acha que o programa Ciência sem Fronteiras é importante iniciativa no campo da internacionalização, “mas é preciso ter um planejamento na volta de nossos alunos, ou seja, de como vamos aproveitá-los estrategicamente para o desenvolvimento do país”.
Araújo lembra que atualmente, nos Estados Unidos, há cem mil chineses estudando nas melhores universidades e já sabem o que vão fazer no retorno ao país. Nós temos apenas nove mil brasileiros.
“Seria estratégico para nossas universidades abrir escritórios em locais de desenvolvimento em C&T e Inovação, como nas regiões de Harvard e Stanford”, o que ele chama de “ter antenas para o futuro”. As universidades precisariam também se submeter às avaliações internacionais.
Ele lembra que a Universidade Federal de Pernambuco fez isso há 15 anos, ao ser avaliada pela Associação de Reitores da Europa e pela Middle States Association — USA, e assim conseguiu chegar entre as dez melhores universidades do Brasil – a única do Norte/Nordeste.
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